10.3.11

Porquê?



Eu sonhei
Que eu estava exatamente aqui
Olhando pra você!
Olhando pra você!
Exatamente aqui

Você não sabe
Mas eu tava exatamente aqui
Olhando pra você!
Você não sabe
Mas eu tava exatamente aqui

Pronto para despertar
Prestes mesmo de explodir
Fardo para não voltar
Pranto para estancar
Luto para acordar
Tonto de tanto te ver
Perto mesmo de explodir
Prestes a saber porquê

Porquê um raio cai?
Porquê o sol se vai?
Se a nuvem vem também
Porquê você não vem?

Pronto para despertar
Perto mesmo de explodir
Então me diz porquê?
Porquê o raio cai?
Porquê o sol de vai?
Se a nuvem vem também
Porquê você não vem?

Porquê “talvez” ficar assim
Sonhando separado
Se no fundo a gente quer
O dia a dia lado a lado
Eu não vou deixar que o medo nos impeça de se aproximar
Pra ter um fim toda a estória
Tinha quem começar
Então me diz porquê
Porquê o raio cai?
Porquê o sol se vai?
Se não é pra gente perceber
Que é assim que se faz?
Porquê o sol se vai?
A gente assim assim
Sonhando separado
Se no fundo a gente quer
O dia a dia lado a lado
Eu não vou deixar você com esse medo de se aproximar
Pra ter o fim toda estória um dia tem que começar
Nada a ver a gente se conter
Se as ondas desse mar
Não param de bater
Se as ondas desse mar
Não param de mostrar você no meu olhar

Me diz porquê?
Porquê o raio cai?
Porquê o sol se vai?

É natural que seja assim
Você aí e eu aqui!
Exatamente aqui!

27.2.11



Entre gargalhadas e raios de sol
De olhos fechados vejo mais além...

24.1.11

De porta fechada, é como quero ficar
De porta fechada, para ninguem entrar
De porta fechada, só com o que penso
De porta fechada, rezo ao bom senso

Helena Vitória

23.1.11


"A ponte não é de concreto, não é de ferro

Não é de cimento

A ponte é até onde vai o meu pensamento

A ponte não é para ir nem pra voltar

A ponte é somente pra atravessar

Caminhar sobre as águas desse momento

Lenine e Lula Queiroga

Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.
Leis feitas, estátuas vistas, odes findas —
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada.

14/02/1933

(Odes de Ricardo Reis)
Eu espero...
Uma viagem metaforica pelo fio da vida_____________________________________________...

http://static.publico.clix.pt/fotogalerias/letrapequena/euespero.aspx

Posso dizer que é um livro da e para a vida.


Autor: Davide Cali
Ilustrador: Serge Bloch
Tradutor: Miguel Gouveia
Editor: Bruaá

15.1.11



Porque a música me faz voar e muito mais...


I carry your heart with me ( i carry it in
my heart). I am never without it ( anywhere

I go you go, my dear; and whatever is done
by only me is your doing, my darling)
I fear
no fate (for you are my fate, my sweet) I want
no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you
here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud

and the sky of the sky of a tree called life; which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart


I carry your heart ( I carry it in my heart)


Trago o teu coração comigo (guardo-o dentro
do meu coração) nunca o deixei noutro lugar (onde quer
que vá, vais comigo, meu amor; e o quer que seja feito
apenas por mim, é por ti feito, minha querida) temerei


jamais qualquer destino (pois és o meu destino, minha doçura) quererei
jamais qualquer mundo (que a tua formosura é todo o meu mundo, minha verdade)
e és tu o que uma lua sempre possa ter significado
e o quer que tenha sempre um sol cantado, és tu


aqui está o mais profundo segredo a todos velado
(aqui está a raiz da raiz e o botão do botão
e as alturas das alturas de uma árvore chamada vida; que cresce
para além do que a alma pode esperar ou o pensamento esconder)
e é esta a maravilha que mantém as estrelas separadas


Trago o teu coração (guardo-o dentro do meu coração)

E. E. Cummings

9.1.11

Saudade


Esta palavra saudade

Sete letras de ternura
Sete letras de ansiedade
E outras tantas de aventura
Esta palavra saudade
A mais bela e a mais pura
Sete letras de verdade
E outras tantas, de loucura
Sete pedras, sete cardos
Sete facas e punhais
Sete beijos que são nados
Sete pecados mortais
Esta palavra saudade
Dói no corpo devagar
Quando a gente se levanta, fica na cama a chorar
Esta palavra saudade
Sabe a sumo de limão
Tem um travo de amargura,
Que nasceu no coração
Ai palavra amarga e doce estrangulada na garganta
Palavra com se fosse o silêncio, que se canta
Meu cavalo imenso e louco a galopar na distância
Entre o muito e entre o pouco, que me afasta da infância
Esta palavra saudade é a mais prenha de pranto, como um filho nascesse
Por termos sofrido tanto


Por termos sofrido tanto
É que a saudade está viva
São sete letras de encanto
Sete letras por enquanto,
Enquanto a gente for viva


Esta palavra saudade sabe ao gosto das amoras
Cada vez que tu não vens, cada vez que tu demoras
Ai palavra amarga e doce, debruçada na idade
Palavra como se fossemos resto de mocidade
Marcada por sete letras a ferro e a fogo no tempo
Ai, palavra dos poetas que a disparam contra o vento
Esta palavra saudade dói no corpo devagar
Quando a gente se levanta fica na cama a chorar

Por termos sofrido tanto
É que a saudade está viva
São sete letras de encanto
Sete letras por enquanto,
Enquanto a gente for viva

Sete Letras - J. C. Ary dos Santos, cantado por Simone de Oliveira

Pelos meu passos vou...
... ao encontro dos teus.

7.1.11

Não posso adiar este braço

que é uma arma de dois gumes

amor e ódio

Não posso adiar

ainda que a noite pese séculos sobre as costas

e a aurora indecisa demore

não posso adiar para outro século a minha vida

António Ramos Rosa

6.1.11

Follow your common sense
You cannot hide yourself
Behind a fairytale forever and ever


Annie Leibovitz

4.1.11

Desde que haja Amor...

30.12.10

20.12.10

Estrela decadente


Vais por caminhos errantes
Gastos por passos pesados
Num rasto de luz prometido
Pelos prazeres passados

11.12.10

8.12.10

«De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.


No segundo caso, o homem que não dorme pensa: "o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração."»

Carlos Oliveira

brave timbers - For Every Day You Lost from k craig on Vimeo.

Ignorando barcos e gruas, as mesmas asas e o mesmo mar...

8.1.10


"Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.
Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato."

Lewis Carroll

1.1.10


Também temos saudades do que não existiu, e dói bastante.


Carlos Drummond de Andrade


Só há um tipo de amor que dura, o não correspondido.


Woody Allen

21.12.09

16.12.09



A tentar combater o frio com a Sodade de umas férias bem quentes...

7.12.09

Cortar o tempo



Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente

Carlos Drummond de Andrade

Alcançar...


Foto de Al Magnus

"...Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
Sem nos dar braços para os alcançar?!..."

Florbela Espanca

Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz

Chico Buarque

2.12.09

Metade



Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.

E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.

Oswaldo Montenegro

1.12.09

Tempo


O Tempo passa e a vida é escassa

O Tempo corre e a dor não morre

O Tempo urge e o amor não surge

Ai o Tempo que voa como o vento

22.11.09

Luz


A vela já está acesa.
E agora?
Agora é só esperar...

21.11.09

Ouvi dizer...


Ouvi dizer que o nosso amor acabou.
Pois eu não tive a noção do seu fim!
Pelo que eu já tentei,
Eu não vou vê-lo em mim:
Se eu não tive a noção de ver nascer um homem.
E ao que eu vejo,
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi!
E eu fiquei com tanto para dar!
E agora
Não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva!
E pudesse eu pagar de outra forma!

Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã.
E eu tinha tantos planos pra depois!
Fui eu quem virou as páginas

Na pressa de chegar até nós;
Sem tirar das palavras seu cruel sentido!
Sobre a razão estar cega:
Resta-me apenas uma razão,
Um dia vais ser tu
E um homem como tu;
Como eu não fui;
Um dia vou-te ouvir dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!

Sei que um dia vais dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!

A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!

Ornatos Violeta

O teu riso



Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

Os teus pés




Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
a duplicada púrpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouco levantaram vôo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.

Pablo Neruda

20.11.09

Princesa Desalento




Minh'alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É magoada, e pálida, e sombria,
Como soluços trágicos do vento!

É fágil como o sonho dum momento;
Soturna como preces de agonia,
Vive do riso duma boca fria:
Minh'alma é a Princesa Desalento...

Altas horas da noite ela vagueia...
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!

O luar ouve minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta...

Florbela Espanca

Para vocês




Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill

19.11.09


Foto de Herwitt

Um homem de génio é produzido por um conjunto complexo de circunstâncias, começando pelas hereditárias, passando pelas do ambiente e acabando em episódios mínimos de sorte.

Fernando Pessoa

Foto de Al Magnus

Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.

Fernando Pessoa

17.11.09

A menina do mar


Foto de Al Magnus

“...No dia seguinte, logo de manhã. o rapaz foi ao seu jardim e colheu uma rosa encarnada muito perfumada. Foi para a praia e procurou o lugar da véspera.
- Bom dia, bom dia, bom dia - disseram a Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe.
- Bom dia - disse o rapaz. E ajoelhou-se na água, frente da Menina do Mar.
- Trago-te aqui uma flor da terra - disse; chama-se uma rosa.
- É linda, é linda - disse a Menina do Mar, dando palmas de alegria e correndo e saltando em roda da rosa.
- Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.
A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente. Depois levantou a cabeça e disse suspirando:
- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfuma assim. Mas estou tonta e até um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.
- Mas o que é a saudade? - Perguntou a Menina do Mar.
- A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.

Sophia de Mello Breyner

10.11.09

Shhhhhhh...




Não digas nada!
Não, nem a verdade!
Há tanta suavidade
Em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada!
Deixa esquecer.

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz...
Não digas nada.

Fernando Pessoa

Ondas


As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.

Sophia de Mello Breyner Andresen

dancing with myself




"When there's no-one else in sight
In the crowded lonely night
Well i wait so long
For my love vibration
And i'm dancing with myself

Oh dancing with myself
Oh dancing with myself
Well there's nothing to lose
And there's nothing to prove
I'll be dancing with myself "

Para sair desta prisão sem fundo

Basta ter um quadradinho virado ao mundo

Sodadi...




22.3.09



As pessoas têm estrelas que não são as mesmas.
Para uns, que viajam, as estrelas são guias.
Para outros, elas não passam de pequenas luzes.
Para outros, os sábios, são problemas.
Para o meu negociante, eram ouro.
Mas todas essas estrelas se calam.

Tu porém terás estrelas como ninguém
Quando olhares o céu de noite,
Porque habitarei uma delas,
Porque numa delas estarei rindo,
Então será como se todas as estrelas te rissem!
E tu terás estrelas que sabem rir!


(Antoine de Saint-Exupéry)



Do seu longínquo reino cor-de-rosa,
Voando pela noite silenciosa,
A fada das crianças vem, luzindo.
Papoulas a coroam, e, cobrindo
Seu corpo todo, a tornam misteriosa.

À criança que dorme chega leve,
E, pondo-lhe na fronte a mão de neve,
Os seus cabelos de ouro acaricia -
E sonhos lindos, como ninguém teve,
A sentir a criança principia.

E todos os brinquedos se transformam
Em coisas vivas, e um cortejo formam:
Cavalos e soldados e bonecas,
Ursos e pretos, que vêm, vão e tornam,
E palhaços que tocam em rabecas...

E há figuras pequenas e engraçadas
Que brincam e dão saltos e passadas...
Mas vem o dia, e, leve e graciosa,
Pé ante pé, volta a melhor das fadas
Ao seu longínquo reino cor-de-rosa.


Fernando Pessoa in "Poesias Inéditas"

Tudo o que foi


foto de Guacyr Aranha

Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.


Fernando Pessoa



Disfarça, tem gente olhando.

uns olham pro alto,

cometas, luas, galáxias.

Outros olham de banda,

lunetas, luares, sintaxes.

De frente ou de lado,

sempre tem gente olhando

olhando ou sendo olhado


Outros olham pra baixo,

procurando algum vestígio

do tempo que a gente acha,

em busca do espaço perdido.

Raros olham para dentro,

já que não tem nada.

Apenas um peso imenso,

a alma, esse conto de fada.


(Paulo Leminski)

Os Girassóis



Os Girassóis-Van Gogh


"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele...
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar..."

(Fernando Pessoa)

26.10.08

Quase...


Escultura feita pelos meus meninos (4 anos)

Quase...
Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em si.
Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo,quem quase vive já morreu."

Luiz Fernando Veríssimo

19.10.08

Voltei...


Depois de uma longa pausa motivada por razões diversas, estou de volta.

A ver se não me deixo adormecer e vou partilhando palavras, sons e imagens que gosto.
Até breve...

28.1.08

Tecedeira



Um encontro numa caminhada domingueira.

9.1.08

Beatriz


Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz

Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Olha
Será que ela é de louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz

Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida

Chico Buarque

Lindo, lindo, lindo!

30.12.07

Imagino

No final de cada ano dou comigo a imaginar como será o próximo.
É altura de fazer balanço, de fechar a loja, fazer um inventário ao que se concretizou ou não no último ano. O que ficou para trás, normalmente entra na lista de prioridades, nem que seja para ficar mais um ano de molho...

Acima de tudo imagino o mundo do meu umbigo, o mundo do meu quintal, que funciona como um sopro para o mundo em geral.


1.8.07




Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar

...
Olha que a vida não, não é nem deve ser
como um castigo que tu terás de viver

António Variações

20.6.07

6.6.07

The other side



Não costumo utilizar frases do género: "Foi o destino!" , "Estava escrito!", etc, etc... Mas devo confessar que realmente há um destino ao qual ninguem escapa por mais voltas que dê. E é o que mostra este delicioso video.

30.5.07


Vem ai o Dia da Criança e, como o tempo não volta atrás. Recordar é viver...


27.5.07

Bigger Than My Body




This is a call to the colorblind
This is an IOU
Stranded behind a horizon line
Try to be something true

Yes, I'm grounded
Got my wings clipped
I'm surrounded by
All this pavement
Guess I'll circle
While I'm waiting
For my fuse to dry

Chorus:
Someday I'll fly
Someday I'll soar
Someday I'll be
So damn much more
Cause I'm bigger than my body
Gives me credit for

Why is it not the time?
What is there more to learn?
I've shed this skin I've been tripping in
And I've never quite returned

Yes, I'm grounded
Got my wings clipped
I'm surrounded by
All this pavement
Guess I'll circle
While I'm waiting
For my fuse to dry

Chorus

Cause I'm bigger than my body now

Maybe I'll tangle in the power lines
And it might be over in a second's time
But I'll gladly go down in a flame
If the flame's what it takes to remember my name
To remember my name, oh

Yes, I'm grounded
Got my wings clipped
I'm surrounded by
All this pavement
Guess I'll circle
While I'm waiting
For my fuse to dry

Chorus

Cause I'm bigger than my body
Bigger than my body
Bigger than my body now

John Mayer

26.5.07

Oh gravity, stay the hell away from me!



Gravity is working against me
And gravity wants to bring me down

Oh I'll never know what makes this man
With all the love that his heart can stand
Dream of ways to throw it all away

Oh Gravity is working against me
And gravity wants to bring me down

Oh twice as much aint twice as good
And can't sustain like one half could
It's wanting more
That's gonna send me to my knees
(repeat)

Oh gravity, stay the hell away from me
And gravity has taken better men than me (Now how can that be?)

Just keep me where the light is
Just keep me where the light is
Just keep me where the light is
Come on, keep me where the light is
Come on, keep me where the light is
Away from all the dark
Keep me where the light is
Keep me where, keep me where the light is

John Mayer

foto de Al Magnus

Por cada gota que cai no mar
Há uma outra que sobe ao céu
Por cada gota que a nuvem solta
Há uma outra que o mar lhe dá
Ai ai esperança vem cá cantar
Que o sol não cansa no seu brilhar
Olh'ó menino é um barquinho
Sonha sozinho sempre a remar
Ai ai esperança sonha com quem
Ó mar amansa embala-o bem
Cada criança será o pai
Doutra criança que dele sai
Ai ai esperança p'ra quê chorar
Espera menino esper'á cantar
La la la la la la
Ai ai esperança vem cá cantar
O teu barquinho há-de chegar
Ai ai esperança sempre a cantar
O sol não cansa no seu brilhar

Miguel Esteves Cardoso
cantado pelas Doce e por Sara Tavares

23.4.07

Elogio da Dialéctica



foto de Bogdan Jarocki

A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga?
De nòsDe quem depende que ela acabe?
Também de nòsO que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aì que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã

Bertold Brecht

As Portas que Abril Abriu.



«Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
(...)
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempo do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
(...)
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
(...)
Foi esta força viril
de antes de quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.
E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.»
Ary dos Santos - As Portas que Abril Abriu. Lisboa, 1975.

22.4.07

HOMEM DE COR


Quando nasci eu era preto.
Quando cresci fiquei preto.
Quando estou doente fico preto.
Quando apanho sol fico preto.
Quando estou com frio fico preto.
Quando tenho medo fico preto.
Quando morrer ficarei preto.

Mas tu “homem BRANCO”,
Quando nasces és cor-de-rosa,
Quando cresces ficas branco,
Quando apanhas sol ficas vermelho,
Quando sentes frio ficas roxo,
Quando sentes medo ficas verde,
Quando estás doente ficas amarelo,
Quando morres ficas cinzento,
E ainda tens a lata de me chamar:
"homem de cor!"

Autor anónimo

Both Sides Now



Rows and flows of angel hair
And ice cream castles in the air
And feather canyons everywhere
I've looked at clouds that way

But now they only block the sun
They rain and snow on everyone
So many things I would have done
But clouds got in my way


I've looked at clouds from both sides now
From up and down, and still somehow
It's cloud illusions I recall
I really don't know clouds at all

Moons and Junes and Ferris wheels
The dizzy dancing way you feel
As ev'ry fairy tale comes real
I've looked at love that way

But now it's just another show
You leave 'em laughing when you go
And if you care, don't let them know
Don't give yourself away

I've looked at love from both sides now
From give and take, and still somehow
It's love's illusions I recall
I really don't know love at all

Tears and fears and feeling proud
To say "I love you" right out loud
Dreams and schemes and circus crowds
I've looked at life that way

But now old friends are acting strange
They shake their heads, they say I've changed
Well something's lost, but something's gained
In living every day

I've looked at life from both sides now
From win and lose and still somehow
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all

Both Sides Now, Joni Mitchell