27.11.06

Chuva



Uma homenagem aos últimos dias...

As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudade
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
Da história da gente
E outras de quem nem o nome
Lembramos ouvir

São emoções que dão vida
À saudade que trago
Aquelas que tive contigo
E acabei por perder

Há dias que marcam a alma
E a vida da gente
E aquele em que tu me deixaste
Não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera
Ai, meu choro de moça perdida
Gritava à cidade
Que o fogo do amor sob a chuva
À instantes morrera

A chuva ouviu e calou
Meu segredo à cidade e eis que ela bate no
vidro
Trazendo a saudade

Mariza canta poema de Jorge Fernando

24.11.06

Gorecki ---LAMB



If I should die this very moment
I wouldn't fear
For I've never known completeness
Like being here
Wrapped in the warmth of you
Loving every breath of you
Still in my heart this moment
Or it might burst
Could we stay right here
Until the end of time until the earth stops turning
Wanna love you until the seas run dry
I've found the one I've waited for

All this time I've loved you
And never known your face
All this time I've missed you
And searched this human race
Here is true peace
Here my heart knows calm
Safe in your soul
Bathed in your sighs
Wanna stay right here
Until the end of time
'Til the earth stops turning
Gonna love you until the seas run dry
I've found the one I've waited for

The one I've waited for

All I've known
All I've done
All I've felt was leading to this
All I've known
All I've done
All I've felt was leading to this
Wanna stay right here
'Til the end of time 'till the earth stops turning
I'm gonna love you till the seas run dry
I've found the one I've waited for
The one I've waited for
The one I've waited for

Wanna stay right here
'Til the end of time 'till the earth stops turning
I'm gonna love you till the seas run dry
I've found the one I've waited for
The one I've waited for
The one I've waited for

20.11.06

Recomeça



Recomeça se puderes
Sem angústias e sem pressas.
E os passos que deres no futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto
Queiras só metade.

Miguel Torga

Six Feet Under

Six feet under- A minha serie de eleição. Horas e horas, à volta do que a vida tem de mais certo... A morte. Deixo aqui os ultimos 6 minutos, que dão que pensar, quando ainda não se pensa...

19.11.06

Quadras



O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p´ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P´ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Fernando Pessoa

Linhas



Estico o fio do caminho
Puxo a ponta à meada
Sigo o fundo da linha
Descalça, atravesso a estrada

Linha curva, linha recta
Bússola desnorteada
Onde fica o horizonte?
Leva-me à minha morada


Helena Vitória

16.11.06

A evolução da dança!

Nós estamos lá!!! Mas ficam aqui alguns passinhos para a próxima festa...

Já recebi centenas de e-mails com este poema de Shakespear, daqueles que soam sempre a pieguisse e hoje recebi-o a outra vez mas foi diferente, não li, vi e ouvi, e soube-me bem, por isso partilho a fantástica pieguisse...

14.11.06

S. Sebastião- Ericeira



O nosso quintal mudou
A terra virou calçada
Há menos sonhos pelo ar
Espalhados pela nortada

A propriedade privada
Há muito já invadida
Nunca deixou de lá estar
De ser a nossa guarida

E é na proa do terraço
Que equilibro o horizonte
Descendo entao ao convés
Matando a sede na fonte

Deslizo onda a onda
Na escadaria esculpida
Enterrando os pés na areia
De tudo fico despida

O nosso quintal mudou
Mas tem cheiro a maresia
Mas tem sabor de memórias
Mas tem mar e poesia

Helena Vitória

13.11.06

Desilusão...



Desilusão...

Porque é todos a tememos?
Acho que tenho mais medo de me desiludir, do que da própria desilusão em si. O receio que me envolve, faz com que feche a porta e dê várias voltas à chave, que não te deixa entrar e que não me deixa sair. O meu sistema de segurança.
Sistema esse que não é 100% seguro. Por vezes esqueço-me da porta entreaberta. É quando entras, com pezinhos de lã ou então de arrombo. Não sei o que fazer... mas faço um pedido... não me des a provar a desilusão!

Kodak


foto de loyd hugheshm

Tão sentados que
Estamos
Aqui na borda da lua



Anda jantar comigo
Pômos
A vela na mesa
Tão bonitos
que ficamos
Ri-te p’rá fotografia!



E tão inúteis que somos

João Habitualmente

...de repente.


foto de anne ferran

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amor próximo distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinicius Moraes

Noitinha



A noite sobre nós se debruçou...
Minha alma ajoelha, põe as mãos e ora!
O luar, pelas colinas, nesta hora,
É a água de um gomil que se entornou...

Não sei quem tanta pérola espalhou!
Murmura alguém pelas quebradas fora...
Flores do campo, humildes, mesmo agora,
A noite, os olhos brandos, lhes fechou...

Fumo beijando o colmo dos casais...
Serenidade idílica de fontes,
E a voz dos rouxinóis nos salgueirais...

Tranquilidade... calma... anoitecer...
Num êxtase eu escuto pelos montes
O coração das pedras a bater...



Florbela Espanca

Poema das coisas belas



As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivo serão belas?
E belas, para quê?

Põe-se o sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr do Sol?
E belo, para quê?

Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando coisas percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?

Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?

António Gedeão,
Poemas póstumos (1987)

12.11.06

11.11.06

Mandy Schlundt

Hoje descobri por acaso aqui na net, uma ilustradora alemã Mandy Schlundt , e como gostei... deixo aqui 2 dos seus trabalhos, podem ver mais em http://www.mandysbilder.de/.




10.11.06

A TRADIÇÃO DE S.MARTINHO



"Em Portugal, o Outono e a chegada definitiva do tempo frio são comemorados no dia 11 de Novembro, Dia de São Martinho. Neste dia, um pouco por todo o país, comem-se sardinhas, assam-se castanhas, bebem-se vinho novo e água pé e, em alguns pontos do país, ainda há quem reuna familiares e amigos à volta de uma fogueira ao ar livre... Mas poucos são aqueles que sabem qual o real significado do Dia de São Martinho, ou mesmo o que é o água pé... Começando pela história de São Martinho, reza a lenda que, "num dia tempestuoso ia São Martinho, valoroso soldado romano, montado no seu cavalo, quando viu um mendigo quase nu, tremendo de frio, que lhe estendia a mão suplicante... S. Martinho não hesitou: parou o cavalo, poisou a sua mão carinhosamente na do pobre e, em seguida, com a espada cortou ao meio a sua capa de militar, dando metade ao mendigo. E, apesar de mal agasalhado e sob chuva intensa, preparava-se para continuar o seu caminho, cheio de felicidade. Mas, subitamente, a tempestade desfez-se, o céu ficou límpido e um sol de Estio inundou a terra de luz e calor. Diz-se que Deus, para que não se apagasse da memória dos homens o acto de bondade praticado pelo Santo, todos os anos, nessa mesma época, cessa por alguns dias o tempo frio e o céu e a terra sorriem com a benção dum sol quente e miraculoso." É o chamado Verão de São Martinho! O costume do Magusto, que tradicionalmente começava no Dia de Todos-os-Santos, é simultaneamente uma comemoração da chegada do Outono e um ritual de origem religiosa: o dia do Santo Bispo de Tours (São Martinho) está historicamente associado à abertura e prova do vinho que foi feito em Setembro. O água pé é o resultado da água lançada sobre o bagaço da uva, donde se retirava o pouco de mosto que aí se mantinha. Esta bebida pode ser consumida em plena fermentação ou, depois disso, adicionando-lhe álcool. Assim, diz o ditado popular "no dia de S. Martinho vai à adega e prova o vinho". No fundo, com o São Martinho e o Magusto comemora-se a proximidade da época natalícia, e mais uma vez, a sabedoria popular é esclarecedora: "dos Santos até ao Natal, é um saltinho de pardal!"

8.11.06

Autobiografia



Meus sapatos são canetas.
Não deixo rastros,
deixo letras.

Meus caminhos são poemas.
Não deixo lágrimas,
deixo tremas.

Assim vou andando
na minha estrada de papel,
pendurando as estrelas
num cordel.

Olegario Schmitt

6.11.06

O MUNDO É GRANDE




O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

MAR



Mar!

E é um aberto poema que ressoa
No búzio do areal...
Ah, quem pudesse ouvi-lo sem mais versos!
Assim puro,
Assim azul,
Assim salgado...
Milagre horizontal
Universal,
Numa palavra só realizado.

Diário XI
Miguel Torga

3.11.06

AUSÊNCIA



Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen