27.12.06

A 100TOPEIA



Olhe lá! Espere! Não fuja!
Onde vai tão apressada
Ao menos diga um olá
Não seja mal educada

Já vi que tem muitas pernas
E que depressa se move
Se ficasse mais um pouquinho
Experimentava o meu 39

Sempre que nos encontramos
Foge-me a cem pernas
Para dentro de buraquinhos
Que mais parecem cavernas

Eu não vou pregar o olho
Hei-de ficar de plantão
Vou montar acampamento
Frente à sua mansão

E quando vir uma pata
A espreitar pela janela
Levanto logo no ar
A minha grande chinela

Mas será que sou capaz
De dar-lhe uma sapatada
Não é muito boa ideia
Fazer mal à bicharada

Vou arranjar-lhe casa nova
Mas que não seja na minha
Vou mudá-la para o jardim
Para ser minha vizinha

Vou voltar um dia destes
Com novas desta epopeia
Fiquem a aguardar noticias
Da amiga Centopeia

Lembrei-me



Hoje lembrei-me de ti, como faço todos os dias
Lembrei-me, perdi-me, e encontrei-me
E lembrei-me de mim, de como era contigo
Lembrei-me, perdi-me, e encontrei-me
E lembrei-me de nós e dos outros
Lembrei-me, perdi-me, e encontrei-me
E lembrei-me porque não estás aqui
Lembrei-me, perdi-me, e encontrei-me
E lembrei-me do chegar ao fim
Lembrei-me, perdi-me, e encontrei-me
Hoje lembrei-me de olhar para trás
Lembrei-me, perdi-me, e encontrei-me

Capitão Romance


foto de morgan ommer

Não vou procurar quem espero:
Se o que eu quero é navegar!
Pelo tamanho das ondas
Conto não voltar.

Parto rumo à primavera,
Que em meu fundo se escondeu!
Esqueço tudo do que eu sou capaz:
Hoje o mar sou eu...

Esperam-me ondas que persistem,
Nunca param de bater!
Esperam-me homens que desistem,
Antes de morrer!

Por querer mais do que a vida,
Sou a sombra do que eu sou.
E ao fim não toquei em nada,
Do que em mim tocou.

Eu vi,
Mas não agarrei...

Parto rumo à maravilha,
Rumo à dor que houver pra vir.
Se eu encontrar uma ilha,
Paro pra sentir!

Dar sentido à viagem,
Pra sentir que eu sou capaz!
Se o meu peito diz coragem,
Volto a partir em paz.

Eu vi,
Mas não agarrei...

Ornatos Violeta . Capitão Romance

26.12.06

As palavras

Foto de MarianneLeCarrour

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade

As coisas belas...


Foto de Nabil Mounzer-Pôr-do-sol em Beirute

As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivo serão belas?
E belas, para quê?

Põe-se o sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr do Sol?
E belo, para quê?

Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando coisas percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?

Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?

António Gedeão,
Poemas póstumos (1987)

Quanta almas tenho?

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Fernando Pessoa


fotos de ALI RIZA DEMIR

25.12.06

Parabéns


Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

Alberto Caeiro


17.12.06

Um Luar na Ericeira


Foto de Marco Sadio


12.12.06

Bonecas


Foto de Lareant Orseaux

Mãe para a filha mais nova:
- Então o que gostavas que o Pai Natal te desse?
- Um contraceptivo.
- Um contraceptivo???
- Sim, é que eu tenho cinco bonecas e não quero ter mais nenhuma...

11.12.06

All I want for Christmas is youuuuuuuuu



Tudo o que eu quero pelo Nataaaaal, és tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu-u-u-u-u-u!!!
La la lalalala lalalala lalala lalalala...

Largar amarras


Foto de Adrien Stocker
(...)

Parece que partimos. Cada dia
Mais, profundo na noite se aprofunda
E nós queremos partir - todos os cantos
Empalidecem ao pé desta descida
Até às pedras geladas do silêncio

Olhamos à janela de olhos fitos
Longe a claridade além dos rios
Queremos ir com o vento com o perigo

Queremos a injustiça do castigo
Somos nós que a nós mesmos nos matamos
E com mais amor do que quando amamos
Sentimos sobre nós descer o frio

Sophia de Mello Breyner

Quando



Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente

Álvaro de Campos

10.12.06

Ericeira - Vila de Ouro


Foto de Marco Sadio

Vila de ouro.
É o titulo desta foto e, não há duvida para quem conhece a Ericeira, que o autor não poderia ter escolhido melhor nome para esta imagem nocturna da vila.
Gostei muito desta fotografia.
Talvez porque sejam muito poucas as oportunidades de contempla-la do mar e à noite...
A imagem faz com que me sinta dentro de água, a olhar para caixinhas de luz desarrumadas, que sobem até ás estrelas.
Ericeira a vila de ouro que vale ouro.

Bicycle Tricycle


Foto de Stefano Ricciardi


Rosie Thomas

6.12.06

O caminho para Ítaca


foto de michal chelbin

Se partires um dia rumo a Ítaca
Faz votos de que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Posídon te intimidem!
No teu caminho jamais os encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se subtil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Posídon hás-de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.

Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais com que prazer, com que alegria
Tu hás-de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
E perfumes sensuais de toda espécie
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egipto peregrinas
Para aprender, para aprender dos doutos.

Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas, não apresses a viagem nunca.
Melhor será muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.

Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te punhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu.

Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.

Konstandinos Kavafis (1863-1933)

5.12.06

Uma constipação no masculino...







A noiva cadaver de Tim Burton


Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher,
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sózinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.
António Lobo Antunes


Até numa simples constipação se vê diferença...

3.12.06

Dancing With Myself


by Degas

On the floor of Tokyo
Or down in London town to go, go
With the record selection
With the mirror reflection
I'm dancing with myself

When there's no-one else in sight
In the crowded lonely night
Well I wait so long
For my love vibration
And I'm dancing with myself

Oh dancing with myself
Oh dancing with myself
Well there's nothing to lose
And there's nothing to prove
I'll be dancing with myself

If I looked all over the world
And there's every type of girl
But your empty eyes
Seem to pass me by
Leave me dancing with myself

So let's sink another drink
'Cause it'll give me time to think
If I had the chance
I'd ask the world to dance
And I'll be dancing with myself

Oh dancing with myself
Oh dancing with myself
Well there's nothing to lose
And there's nothing to prove
I'll be dancing with myself

Oh dancing with myself
Oh dancing with myself
Well there's nothing to lose
And there's nothing to prove
I'll be dancing with myself

If I looked all over the world
And there's every type of girl
But your empty eyes
Seem to pass me by
Leave me dancing with myself

So let's sink another drink
'Cause it'll give me time to think
If I had the chance
I'd ask the world to dance
And I'll be dancing with myself
I'll be dancing with myself

So let's sink another drink
'Cause it'll give me time to think

Oh dancing with myself
Oh dancing with myself
Well there's nothing to lose
And there's nothing to prove
I'll be dancing with myself

Oh dancing with myself
Oh dancing with myself
Well there's nothing to lose
And there's nothing to prove
I'll be dancing with myself

Dancing With Myself by Nouvelle Vague

Dance With Me


by Degas

Let's dance little stranger
Show me secret sins
Love can be like bondage
Seduce me once again

Burning like an angel
Who has heaven in reprieve
Burning like the voodoo man
With devils on his sleeve

Won't you dance with me
In my world of fantasy
Won't you dance with me
Ritual fertility

Like an apparition
You don't seem real at all
Like a premonition
Of curses on my soul

The way I want to love you
Well it could be against the law
I've seen you in a thousand minds
You've made the angels fall

Won't you dance with me
In my world of fantasy
Won't you dance with me
Ritual fertility

Come on little stranger
There's only one last dance
Soon the music's over
Let's give it one more chance

Won't you dance with me
In my world of fantasy
Won't you dance with me
Ritual fertility

Take a chance with me
In my world of fantasy
Won't you dance with me
Ritual fertility

Dance With Me by Nouvelle Vague

2.12.06

O Coelho Branco e a sua Alice

Jefferson Airplane - White Rabbit


Delirios da década de 60...



psychedelic video created by maria de rosa

Don't Go by Nouvelle Vague


Amo só assim-assim



Amo o mar
porque não tem fim

e os vagabundos que não têm pilim

Mas pelo meio das formas
e das aparências sem fundo
parecendo que amo o mundo
amo-me sobretudo a mim

Talvez venha a querer ao mar
ou vagamente a um vagabundo

talvez os ame no fundo

Mas no rodar infindo
daquilo que não tem fim
quero-me principalmente a mim

Ao resto das formas
e das aparências do mundo
amo só assim-assim


João Habitualmente

1.12.06

Viajar


foto de autor desconhecido...

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver e ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ansia de o conseguir!

Viajar assim e a viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

27.11.06

Chuva



Uma homenagem aos últimos dias...

As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudade
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
Da história da gente
E outras de quem nem o nome
Lembramos ouvir

São emoções que dão vida
À saudade que trago
Aquelas que tive contigo
E acabei por perder

Há dias que marcam a alma
E a vida da gente
E aquele em que tu me deixaste
Não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera
Ai, meu choro de moça perdida
Gritava à cidade
Que o fogo do amor sob a chuva
À instantes morrera

A chuva ouviu e calou
Meu segredo à cidade e eis que ela bate no
vidro
Trazendo a saudade

Mariza canta poema de Jorge Fernando

24.11.06

Gorecki ---LAMB



If I should die this very moment
I wouldn't fear
For I've never known completeness
Like being here
Wrapped in the warmth of you
Loving every breath of you
Still in my heart this moment
Or it might burst
Could we stay right here
Until the end of time until the earth stops turning
Wanna love you until the seas run dry
I've found the one I've waited for

All this time I've loved you
And never known your face
All this time I've missed you
And searched this human race
Here is true peace
Here my heart knows calm
Safe in your soul
Bathed in your sighs
Wanna stay right here
Until the end of time
'Til the earth stops turning
Gonna love you until the seas run dry
I've found the one I've waited for

The one I've waited for

All I've known
All I've done
All I've felt was leading to this
All I've known
All I've done
All I've felt was leading to this
Wanna stay right here
'Til the end of time 'till the earth stops turning
I'm gonna love you till the seas run dry
I've found the one I've waited for
The one I've waited for
The one I've waited for

Wanna stay right here
'Til the end of time 'till the earth stops turning
I'm gonna love you till the seas run dry
I've found the one I've waited for
The one I've waited for
The one I've waited for

20.11.06

Recomeça



Recomeça se puderes
Sem angústias e sem pressas.
E os passos que deres no futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto
Queiras só metade.

Miguel Torga

Six Feet Under

Six feet under- A minha serie de eleição. Horas e horas, à volta do que a vida tem de mais certo... A morte. Deixo aqui os ultimos 6 minutos, que dão que pensar, quando ainda não se pensa...

19.11.06

Quadras



O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p´ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P´ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Fernando Pessoa

Linhas



Estico o fio do caminho
Puxo a ponta à meada
Sigo o fundo da linha
Descalça, atravesso a estrada

Linha curva, linha recta
Bússola desnorteada
Onde fica o horizonte?
Leva-me à minha morada


Helena Vitória

16.11.06

A evolução da dança!

Nós estamos lá!!! Mas ficam aqui alguns passinhos para a próxima festa...

Já recebi centenas de e-mails com este poema de Shakespear, daqueles que soam sempre a pieguisse e hoje recebi-o a outra vez mas foi diferente, não li, vi e ouvi, e soube-me bem, por isso partilho a fantástica pieguisse...

14.11.06

S. Sebastião- Ericeira



O nosso quintal mudou
A terra virou calçada
Há menos sonhos pelo ar
Espalhados pela nortada

A propriedade privada
Há muito já invadida
Nunca deixou de lá estar
De ser a nossa guarida

E é na proa do terraço
Que equilibro o horizonte
Descendo entao ao convés
Matando a sede na fonte

Deslizo onda a onda
Na escadaria esculpida
Enterrando os pés na areia
De tudo fico despida

O nosso quintal mudou
Mas tem cheiro a maresia
Mas tem sabor de memórias
Mas tem mar e poesia

Helena Vitória

13.11.06

Desilusão...



Desilusão...

Porque é todos a tememos?
Acho que tenho mais medo de me desiludir, do que da própria desilusão em si. O receio que me envolve, faz com que feche a porta e dê várias voltas à chave, que não te deixa entrar e que não me deixa sair. O meu sistema de segurança.
Sistema esse que não é 100% seguro. Por vezes esqueço-me da porta entreaberta. É quando entras, com pezinhos de lã ou então de arrombo. Não sei o que fazer... mas faço um pedido... não me des a provar a desilusão!

Kodak


foto de loyd hugheshm

Tão sentados que
Estamos
Aqui na borda da lua



Anda jantar comigo
Pômos
A vela na mesa
Tão bonitos
que ficamos
Ri-te p’rá fotografia!



E tão inúteis que somos

João Habitualmente

...de repente.


foto de anne ferran

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amor próximo distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinicius Moraes

Noitinha



A noite sobre nós se debruçou...
Minha alma ajoelha, põe as mãos e ora!
O luar, pelas colinas, nesta hora,
É a água de um gomil que se entornou...

Não sei quem tanta pérola espalhou!
Murmura alguém pelas quebradas fora...
Flores do campo, humildes, mesmo agora,
A noite, os olhos brandos, lhes fechou...

Fumo beijando o colmo dos casais...
Serenidade idílica de fontes,
E a voz dos rouxinóis nos salgueirais...

Tranquilidade... calma... anoitecer...
Num êxtase eu escuto pelos montes
O coração das pedras a bater...



Florbela Espanca

Poema das coisas belas



As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivo serão belas?
E belas, para quê?

Põe-se o sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr do Sol?
E belo, para quê?

Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando coisas percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?

Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?

António Gedeão,
Poemas póstumos (1987)

12.11.06

11.11.06

Mandy Schlundt

Hoje descobri por acaso aqui na net, uma ilustradora alemã Mandy Schlundt , e como gostei... deixo aqui 2 dos seus trabalhos, podem ver mais em http://www.mandysbilder.de/.




10.11.06

A TRADIÇÃO DE S.MARTINHO



"Em Portugal, o Outono e a chegada definitiva do tempo frio são comemorados no dia 11 de Novembro, Dia de São Martinho. Neste dia, um pouco por todo o país, comem-se sardinhas, assam-se castanhas, bebem-se vinho novo e água pé e, em alguns pontos do país, ainda há quem reuna familiares e amigos à volta de uma fogueira ao ar livre... Mas poucos são aqueles que sabem qual o real significado do Dia de São Martinho, ou mesmo o que é o água pé... Começando pela história de São Martinho, reza a lenda que, "num dia tempestuoso ia São Martinho, valoroso soldado romano, montado no seu cavalo, quando viu um mendigo quase nu, tremendo de frio, que lhe estendia a mão suplicante... S. Martinho não hesitou: parou o cavalo, poisou a sua mão carinhosamente na do pobre e, em seguida, com a espada cortou ao meio a sua capa de militar, dando metade ao mendigo. E, apesar de mal agasalhado e sob chuva intensa, preparava-se para continuar o seu caminho, cheio de felicidade. Mas, subitamente, a tempestade desfez-se, o céu ficou límpido e um sol de Estio inundou a terra de luz e calor. Diz-se que Deus, para que não se apagasse da memória dos homens o acto de bondade praticado pelo Santo, todos os anos, nessa mesma época, cessa por alguns dias o tempo frio e o céu e a terra sorriem com a benção dum sol quente e miraculoso." É o chamado Verão de São Martinho! O costume do Magusto, que tradicionalmente começava no Dia de Todos-os-Santos, é simultaneamente uma comemoração da chegada do Outono e um ritual de origem religiosa: o dia do Santo Bispo de Tours (São Martinho) está historicamente associado à abertura e prova do vinho que foi feito em Setembro. O água pé é o resultado da água lançada sobre o bagaço da uva, donde se retirava o pouco de mosto que aí se mantinha. Esta bebida pode ser consumida em plena fermentação ou, depois disso, adicionando-lhe álcool. Assim, diz o ditado popular "no dia de S. Martinho vai à adega e prova o vinho". No fundo, com o São Martinho e o Magusto comemora-se a proximidade da época natalícia, e mais uma vez, a sabedoria popular é esclarecedora: "dos Santos até ao Natal, é um saltinho de pardal!"

8.11.06

Autobiografia



Meus sapatos são canetas.
Não deixo rastros,
deixo letras.

Meus caminhos são poemas.
Não deixo lágrimas,
deixo tremas.

Assim vou andando
na minha estrada de papel,
pendurando as estrelas
num cordel.

Olegario Schmitt

6.11.06

O MUNDO É GRANDE




O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

MAR



Mar!

E é um aberto poema que ressoa
No búzio do areal...
Ah, quem pudesse ouvi-lo sem mais versos!
Assim puro,
Assim azul,
Assim salgado...
Milagre horizontal
Universal,
Numa palavra só realizado.

Diário XI
Miguel Torga

3.11.06

AUSÊNCIA



Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen

30.10.06
















foto de eddie o'brien

Porque os outros se mascaram mas tu não

Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

26.10.06




Ser educador é pintar o mundo de todas as cores
É poder fazer sorrir as crianças
É vê-las crescer

É ajudá-las a aprender.
Ser educador é profissão de amor.
E deixar em cada criança

A lembrança de um mundo melhor.

Ser educador é ser poeta
É ser pintor,

É ser palhaço,
É ser actor.
Ser educador é ser criança
É ser adulto

É ter esperança.


25.10.06

Mais - Menos



Mais - Menos


Quero dizer mais
e digo: mais

Mas cada vez
digo menos
o mais que sei
e sinto

Ana Hatherly

24.10.06

EQUADOR




“Não esperes nunca de mim que eu seja fiel a qualidades que não tenho.
O que podes é contar com as que tenho, porque nessas não te falharei nunca

Miguel Sousa Tavares, "Equador"

Pois é! Há um mês que ando a "dormir" com este senhor. Há um mês que divide a minha cama em dois hemisférios, eu fico no norte e ele no sul. Há um mês que me deixei envolver pela linha do Equador e não só... Enfim, é dificil resistir aos encantos dos homens do norte, ainda por cima quando têm Tavares como apelido...

ASAS


Asas servem para voar

para sonhar ou para planar

Visitar espreitar espiar

Mil casas do ar

As asas não se vão cortar

Asas são para combater

Num lugar infinito

para respirar o ar

As asas são

para proteger te pintar

Não te esquecer

Visitar espreitar-te

bem alto do ar

Só quando quiseres pousar

da paixão que te roer

É um amor que vês nascer

sem prazo, idade de acabar

Não há leis para te prender

aconteça o que acontecer.

GNR in PoP LeSS
uma grande letra para uma pequena música...


6.8.06

Gente gira 1 - Um B-tok a 1/2 caminho

Estacionaram à porta do café, numa enorme viatura, daquelas que não necessitam de carta (porquê)... Enfim.... Abrem a porta e entram no estabelecimento. Ele de look descontraído, o confortável fato de treino, não há nada como a liberdade de movimentos. Ela de look... de look... não palavras que definam, mas vou tentar. Longo cabelo loiro com franja curta, rosto redondo, corpo muito redondo, mas nada que a impeça de vestir um belo vestido curto, padrão toalha de mesa (verde e branco, finos quadrados), andar sedutor, pezinho virado para fora e muito orgulho peitoral... Sentam-se, sem trocar uma palavra, o café chega à mesa como por magia... e num movimento mecanizado, rasgam o pacote de açúcar, despejam-no na bica, mexem com frenesim, lambem a colher pousam-na no pires e, como se de um numero de circo se tratasse, pegam na chávena só com dois dedinhos, xarammmmm, e para terminar em grande qual acrobatas, mantêm o dedo mindinho erecto até ao final do acto. Quando pousaram a chávena tive vontade de aplaudir mas, controlei-me...

12.7.06

Morrer lentamente






Morre lentamente

"Pablo Neruda"

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não
ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem
não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do
hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não
conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o
negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um
redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos
olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um
sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida
fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da
sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de
iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não
responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre
que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples facto de respirar.

Somente a perseverança fará com que continuemos um estágio pleno de felicidade.

Morre lentamente...

28.6.06



Era tão bom se pudessemos andar com a cabeça ao colo...
E o pensamento?
Esse pode andar por onde quiser!

Há dias!!!

Há dias!!! Que deviam passar a minutos, para ver se acabavam de pressa... Hoje foi um deles. Finalmente em casa, só eu ... Hoje sou a minha companhia perfeita. Convido o Yann Tiersen para dar um concerto no meu quarto, a plateia é a minha cama. Depois de um dia destes é o cenário ideal para me deixar de rastos. Mas que puta de vida, entretanto de certeza que me vou lembrar, que antes uma puta de vida, que uma vida de puta. E já nada me vai parecer mau...

22.6.06



















A minha Lua!!!
Que é o meu Sol...